terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fadado

Estou em reclusão já faz alguns dias, ou pelo menos tentando estar, porque nesse período continuo saindo como se nada estivesse acontecendo. Na verdade, estou falando de uma reclusão emocional, seja lá o que isso significa. Não sei se é a decisão certa, como não tenho mais certeza de qualquer decisão que tomei nos últimos tempos, nem mesmo de rever minhas resoluções, quando a verdade é que ando bem confuso. O que por um lado é bom, bem próprio de um blog que fala de sonhos, então talvez eu não esteja tão confuso assim. Sei da contradição que é estar em reclusão e ainda assim tentar manter as aparências, por outro lado, me sinto sozinho como talvez nunca tenha me sentido antes. Penso e sinto coisas que tenho receio de compartilhar, usando de meias palavras e dissimulação para esconder o que se passa dentro de mim, que nem eu mesmo entendo direito. Uma das idéias que tenho medo de compartilhar, talvez por estar apavorado com a possibilidade de ela ser verdadeira, é a de estar fadado. Eu olho para o passado diariamente, tentando me apegar a uma época mais simples, antes da perda que sofri, e também nos primeiros meses depois dela, quando o calabouço não era algo concreto. Aquela era a pessoa que eu queria ser, forte e otimista mesmo diante da adversidade, admirado por todos. Porém, à medida que passei a me sentir incompreendido pelos outros e parei de compartilhar o que estava na minha cabeça, comecei a sentir as paredes de um calabouço literal se fechando em volta de mim. Então sonhei com a possibilidade de escapatória até destruir as paredes do calabouço, chegando no fundo daquele poço profundo que chamo de limbo, onde sonho e realidade se misturam. Tudo parece mortalmente falso e ao mesmo tempo mais real do que nunca, um sonho que virou pesadelo, onde o passado é minha única companhia, porque o presente é cruel e o futuro uma escuridão completa. Eu avanço aos tropeços por um túnel lamaçento que parece não ter fim, porque não enxergo luz no fim desse túnel, apenas lá no começo, antes de abrir os olhos e me encontrar no calabouço, como se todo o resto fosse um sonho. Me pergunto se ainda estou no calabouço, sonhando com um túnel sem fim, ou se estou caído no meio do túnel, sonhando em voltar ao calabouço. Ou quem sabe esse pensamento não é um pesadelo disfarçado de sonho, dizendo que pode existir uma saída mais fácil se eu voltar ao calabouço, provavelmente uma subida ao invés de uma descida. Mas agora não sei se esse calabouço é real, se cometi algum crime para estar nele, ou se mesmo ele não é obra da minha imaginação. Talvez eu sempre estive no túnel e nunca houve um calabouço, o que pode indicar que o túnel também não seja real, que seja só uma estrada ou várias delas, e eu só não saiba que caminho seguir. Mas o caminho que eu quero mesmo seguir é o da Estrada do Trovão, ir até lá acompanhado de uma mulher e não vão voltar mais, tendo só ela e a estrada como companhia. Viver sem rumo. Sem destino. Agora já misturei três sonhos numa coisa só e todos parecem mais verdadeiros que a realidade, quando na verdade estão deixando de ser, porque cada dia tomo mais consciência de tudo ao meu redor, e descobri que não gosto muito dessa realidade, que estou tão no limbo aqui quanto no túnel. Me pergunto a quanto tempo estou nele, porque toda minha vida me senti no limbo, lutando para ficar em pé. Lembro dos meus tempos no colégio tentando correr como os outros até tropeçar e cair. É como eu me sinto agora, como sempre me senti, mas dessa vez não quero ninguém olhando a minha queda. Quero que lembrem de mim erguendo o rosto ferido e tentando ficar em pé. Penso que esse pode ser o meu destino, que estou fadado a essa repetição, preso no limbo. Mas entre sonho e realidade o que eu quero é voltar a ser eu mesmo, quando achei ter me encontrado, antes de entrar no calabouço. Antes de cair no túnel. Quando a vida não parecia um pesadelo, onde nada era predeterminado e a Estrada do Trovão se estendia diante de mim, cheia de aventuras e descobertas. Mas cada vez mais percebo que um homem não pode fugir de seu destino. Nesse caso, talvez o melhor realmente seja sonhar com a Estrada do Trovão, nem que seja para se iludir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu filho! Sei exatamente o que se passa contigo, embora não se diga e não tenho tua capacidade de descrever com clareza meus sentimentos. Quero que saibas que não estás só, estamos trilhando a mesma estrada. Te amo!

Diário De Um Dedinho disse...

"Fica o vazio após o tchau. Fica o fantasma, quando o concreto se vai. Ficam as marcas de poeira ao redor dos quadros e os longos fios substituindo o ar. Ficamos eu e você, aqui e aí. Um vazio momentâneo, uma saudade permanente, uma dor que vai e vem, alternada com uma apaixonada e obcecada psicose, que só entende quem sente. Mas vai
passar..."

Existe amor em volta de vc...