sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Insônia

Ando dormindo mal e não sei bem o porquê disso. Sim, minha cabeça está sempre ativa, procurando uma saída do abismo, no caminho de volta do labirinto. Não sei se devo simplesmente procurar a saída do labirinto ou voltar ao abismo, atrás da escadaria, mas acho que uma coisa tem a ver com a outra. A verdade é que não me vejo perto de um nem de outro. Quero voltar, mas não há como, até sei que não é a decisão certa. Porém, não consigo dormir direito, apesar de sentir um cansaço enorme. Nada mais me dá satisfação, quero só ter uma boa noite de sono e voltar à realidade, mas daquele jeito que ainda podemos sonhar, e não essa realidade insone, onde não há esperança. É engraçado como a realidade parece um sonho e o sonho parece a realidade. Quero despertar, mas nada que eu pense ou escreva me dá essa paz, porque só dormir direito pode me dar isso. Só que não consigo, nem mesmo sinto o fogo interno que tantas vezes me ergueu, quando tudo mais parecia perdido. Aquele orgulho de estar no caminho certo, sem precisar de nada ou ninguém, porque eu tinha a mim mesmo. Só que nem todos pensam dessa forma e por algum motivo eu permito que roubem meu fogo. E não culpo ninguém por isso, ninguém além de mim. Acho que permito isso por não saber direito o caminho que devo seguir. Quer dizer, eu até sei de um modo subjetivo, baseado nos padrões da sociedade e do que esperam de mim, mas não sei dizer se esse ainda é o meu caminho. Nem se tenho condições de seguir ele. De qualquer forma, se perder na vida também envolve uma certa coragem, mas ao mesmo tempo cada dia até você se encontrar é mais assustador que o outro, até porque não sei se eu vou conseguir fazer isso. Não tenho idéias ou sentimentos novos que possam me botar no caminho certo. Muito pelo contrário, tudo parece velho e desbotado, idéias e paradoxos que se repetem. Preciso de um fator novo na vida, porque as experiências atuais já se exauriram, mas para tanto preciso voltar a dormir. Do contrário simplesmente vou deixar que roubem meu fogo como eu fiz por toda a minha vida.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Labirinto

Hoje vou tentar algo diferente. Geralmente escrevo quando faço alguma descoberta ou tenho um insight, depois de conseguir botar meus pensamentos em ordem, mas ultimamente não ando muito inspirado. Nem animado para ser bem sincero. Outra coisa que faço seguidamente é demonstrar força e indignação. Porém, não é o que eu quero agora, nem como me sinto. Porque estar no abismo também tem disso, às vezes pensamos ter achado uma saída, então algo acontece e voltamos à estaca zero. Eu simplesmente nunca escrevo nessas circunstâncias, porque prefiro a subida do que a descida, quando tudo que parecia certo vira de cabeça para baixo. De certa forma é como um labirinto, uma sucessão de erros e acertos que podem ou não levar até a saída, e muitas vezes seguimos muito tempo por um caminho que parece certo, portanto o choque pode ser enorme quando ele não dá em nada. Aí é todo um esforço para achar o caminho de volta. E nesse meio tempo não existe muita esperança, porque até encontrar o trecho onde as coisas deram errado tudo parece apenas uma repetição, como um filme que você já viu passando dentro da sua cabeça, mostrando todos os seus erros e fraquezas. Nem mesmo relaxar ajuda, porque não é questão de achar uma resposta dentro de si, não nesse momento. Isso é válido só até certo ponto, afinal, ter consciência das coisas tem seu limite de utilidade, até porque nem sempre descobrimos coisas boas. Às vezes simplesmente tomamos consciência de coisas que parecem impossíveis de mudar. É verdade que eu avancei muitas léguas desde o calabouço, mas à medida que eu avanço o fim do caminho parece mais próximo, e não me refiro a uma saída, estou falando de simplesmente não ter mais forças para continuar. É a dor das oportunidades desperdiçadas, das vezes que eu achei ter encontrado uma saída, quando era só um desvio do caminho certo. Eu estava em pé, pelo menos achava estar, mas não provei isso quando a oportunidade se apresentou. Outra vez tive a chance de agir feito homem e baixei a cabeça, voltando a ser o garotinho assustado, mas agora não existe ninguém além de mim para mostrar outro caminho. Por um lado isso é bom, porque até agora não foi o caminho certo, e agora tenho chance de achar ele por conta própria. Não quero o favor de ninguém para sair do abismo, nem é o que eu preciso, portanto dispenso esse tipo de ajuda. Simplesmente já tive demais dela. Mas não adianta só escrever e não fazer nada quando a chance se apresenta, né?

Ela

"Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive.

Ela tem muita dúvida como todos têm. Mas nem todos sabem a beleza de saber lidar com a tristeza. Ela sabe. Ela ouve a música que seu coração pede e modela seu ritmo ao seu estado de espírito. Ela dança a coreografia de seus sentimentos, e todos podem ver.

Ela é um pote de cristal, tão transparente quanto, tão rico quanto. Mas um cristal que não sabe seu real valor, um achado no meio de tantos outros pobres potes que são apenas de vidro. Estes se quebram e são varridos como um objeto qualquer. Mas ela não, se ela quebra, é a tristeza de um cristal que se foi. E todos sentem.

Por um instante estive com esse cristal bem perto. Hoje sei a falta que ele faz, e embora alguns digam 'tanto faz', eu digo que te amo."

Caio F. Abreu

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Continue meu filho desobediente



Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você tiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Eu me levantei acima do barulho e da confusão
Para dar uma espiada além desta ilusão
Eu estava voando cada vez mais alto
Mas eu voei alto demais

Embora meus olhos pudessem ver eu era ainda um homem cego
Embora minha mente pudesse pensar eu era ainda um homem louco
Eu ouço as vozes quando estou sonhando
Eu posso ouvi-las dizer

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você tiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Mascarado como um homem com uma razão
Minha charada é o evento da estação
E se eu reivindicar ser um homem sábio
Significa certamente que eu não sei

Em um mar em tempestade de emoção movente
Sou lançado como um navio no oceano
Eu ajustei um curso para ventos da fortuna
Mas eu ouço as vozes dizerem

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você tiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Continue, você recordará sempre
Continue, nada se iguala ao esplendor
Agora sua vida já não é mais vazia
Certamente o céu o espera

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você estiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore
Não chore mais

Não mais

Karry Livgren - Kansas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Por trás dos olhos azuis



Ninguém sabe como é
Ser o vilão
Ser o homem triste
Por trás dos olhos azuis

Ninguém sabe como é
Ser odiado
Ser fadado
A contar só mentiras

Mas os meus sonhos
Não são tão vazios
Quanto a minha consciência parece ser

Eu passo horas totalmente sozinho
Meu amor é vingança
Que nunca está livre

Ninguém sabe como é
Sentir esses sentimentos
Como eu sinto
E eu culpo você

Ninguém reprime tanto a raiva
Nem um pouco da minha dor e angústia
Podem aparecer

Mas os meus sonhos
Não são tão vazios
Quanto a minha consciência parece ser

Eu passo horas totalmente sozinho
Meu amor é vingança
Que nunca está livre

Quando meus punhos se fecharem, force-os a abrir
Antes que eu os use e perca a calma
Quando eu sorrir, me conte notícias ruins
Antes que eu ria e aja como um idiota

E se eu engolir alguma coisa maligna
Coloque o dedo dentro da minha garganta
E se eu tremer, por favor me dê um cobertor
Me aqueça, deixe eu vestir seu casaco

Ninguém sabe como é
Ser o vilão
Ser o homem triste
Por trás dos olhos azuis

Peter Townshend - The Who

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Abismo

Durante a minha caminhada no túnel sem fim, aquele que só existe na minha cabeça, acabei topando com um abismo, outro produto da minha imaginação. Ou será que não? Mais uma vez sonho e realidade se misturam, tudo isso enquanto ouço Beethoven, leio Nietzche e penso na minha estrela. Assim começa a chuva e trovões iluminam meu caminho, então eu vejo o abismo diante de mim, e tudo o que vem além dele, o céu aberto e uma cidade iluminada. Finalmente enxergo o céu, mas não há estrelas nele, nem lua ou sol. O céu é pura escuridão, assim como o abismo, e dele só brota chuva, como se fossem as lágrimas que não produzo mais, enquanto os trovões nada mais são do que o caos, aquele que tomou posse da minha alma. Sem opção, chego na beirada do abismo e enxergo a mim mesmo, sozinho. Olha para o céu e não enxergo minha estrela guia, ela que fora tão bela, agora presa dentro de mim, uma promessa inócua de recompensa. Não sei por onde seguir, pois tenho medo do abismo que olha de volta para mim, mas a cidade do outro lado não me parece tão promissora assim, não nessa região tão escura. Olho para trás e vejo o calabouço ainda no mesmo lugar, como se eu não tivesse avançado um só passo desde que escapei, o que não deixa de fazer sentido, visto que a liberdade chegou como uma queda. E sendo assim, não tenho escolha além de descer o abismo, porque não posso mais voltar atrás, mesmo que eu queira. Ele está lá e preciso aceitar isso, como da última vez que aceitei a escuridão, ainda que daquela vez não estivesse sozinho e o abismo não fosse tão grande. Mas enquanto vou descendo eu percebo que o abismo não é tão grande assim; de fato, ele diminui a cada degrau. Sim, ele tem degraus, vejo isso agora. Vejo uma escadaria que sempre esteve me esperando, encoberta pela névoa, e assim o cenário vai mudando de forma, pois sempre existiu alguém no controle desse mundo. E esse alguém sou eu. Vou chegando no final do abismo e a névoa começa a se dissipar, assim como a chuva, os trovões e tudo mais. Quando atingo o fim do abismo, além da névoa, eu olho para o céu e vejo o sol, a lua e milhares de estrelas. Então eu corro até o outro lado, querendo ver a cidade iluminada, mas não há degraus para subir. Ainda não. Frustrado, decido explorar o abismo, e mesmo profundamente ferido fico fascinado por suas excentricidades e maravilhas, suas faces distintas. De um lado da névoa existe o nada, do outro surge a promessa de tudo, e no meio daquela indecisão estou eu, tão no limbo quanto antes. Mas talvez eu precise aceitar o limbo, o tudo e o nada, o bom e o ruim. Todo o resto é sonho e falsidade. A verdade é que sempre vou lembrar de tudo, dos momentos que tive a estrela toda para mim, ainda que me tenha sido negado capturar ela, e também de quando a perdi, porque o brilho dentro de mim era intenso demais. Lembro da minha fuga e da queda, do abismo e suas promessas, que por fim me colocam de volta na Estrada do Trovão. Me sinto livre outra vez e faço de novo o convite para me acompanharem nessa viagem, onde podemos moldar nossos sonhos a qualquer momento, e quem sabe criar uma escadaria para o outro lado do abismo, em algum lugar além do arco-íris. Porque, como diz a música, "é lá que nossos sonhos se realizam". Até lá sigo explorando o abismo, atrás de outra escadaria, porque sua existência só depende de mim. Mas tem vezes que o melhor a fazer é encarar o abismo, nem que seja para procurar uma saída da escuridão.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Minha amada imortal



"Quando estou deitado no leito volto meus pensamentos para ti. Minha amada imortal. Alguns alegres, outros tristes, aguardando para ver se o destino nos escutará. Só posso viver plenamente contigo, ou não viverei. Sim, é como deve ser. Agora tenho de dormir. Tenha calma, amor. Hoje, ontem, anseio até as lágrimas por ti. Você. Você é minha vida. Meu tudo. Agora me despeço. Continue me amando. Sempre teu. Sempre minha. Para sempre."

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Estrela cadente

Quando eu olho para o céu durante a noite, procurando uma estrela, a minha estrela, sinto todo o peso da minha solidão. Já sei qual é o mal que me aflige e ele nada tem a ver com calabouços e terras prometidas, mas com a ausência da minha estrela, que não encontrei essa noite e nunca mais vou encontrar. Minha doce estrela. As coisas não saíram como planejei essa noite, assim como não saíram com a estrela, e quando olhei para o céu procurei seu brilho por todo lado, aquele riso que contagia o meu. Não estava lá. Perdi minha estrela e para trás ela deixou sonhos despedaçados, um coração partido. Por um instante, mínimo, quase inexistente, ela refletiu sua luz em mim, e fascinado, tentei capturá-la para mim. No entanto, só o que roubei foi seu brilho, privando ela do meu. Ela apagou, não está mais no céu, pois agora se alojou em mim, eterna. Agora ela está sozinha, sem o meu brilho e o dela. Uma estrela cadente. Contudo, nunca a achei tão bela e tão trágica quanto agora, durante a queda. Mas a queda é minha, não dela, assim como o brilho é meu, não dela. Eu capturei seu brilho, e dele surgiu o meu, então ela caiu para dentro de mim, por isso deixou o céu. É o destino de toda estrela cair, nem que seja para outra tomar seu lugar e ser o objeto da adoração de outra pessoa. Agora não sinto mais falta da estrela, porque ela sou eu e minha solidão nada mais é do que o anseio de ser adorado, e assim cair. Minha estrela passou a habitar o solo, e eu enxergo ela aqui de cima como um guardião, esperando ela olhar de volta. Mas cada dia que passa ela se mais afasta de mim e eu subo cada vez mais, inatingível. É seguro aqui em cima, sereno. Agora posso entender como ela se sentia, tão tranquila, mas também tão assustadoramente só. Foi minha adoração que a libertou, então todo o meu esforço de brilhar mais forte que qualquer estrela já brilhou foi recompensado, mesmo que fazendo isso tenha afastado ela de mim. Mas o destino das estrelas é brilhar e cair. Talvez exista uma regra que uma estrela não possa adorar outra, pois assim elas ficariam eternamente no céu, sozinhas. O único jeito de duas estrelas se adorarem é depois da queda, afinal, só cabe uma estrela nesse céu, quando o solo é repleto de estrelas cadentes. Toda noite alguém faz um desejo para uma estrela cadente, torcendo que seja ela a nos encontrar, ou no mínimo libertar. Eu encontrei minha estrela, então brilhei com toda intensidade para conquistá-la, e assim ela caiu, portanto quero ir atrás dela, porque ela também é minha estrela cadente. Vou viver na expectativa de que ela veja toda a intensidade do meu brilho, guardando ele dentro de mim, porque é o tipo de coisa que só se encontra procurando, quando se quer encontrar. O destino de toda estrela é brilhar, assim como o destino de uma estrela cadente é ser encontrada, quando ela quer ser descoberta. Do contrário ela nunca foi uma estrela desde o começo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fadado

Estou em reclusão já faz alguns dias, ou pelo menos tentando estar, porque nesse período continuo saindo como se nada estivesse acontecendo. Na verdade, estou falando de uma reclusão emocional, seja lá o que isso significa. Não sei se é a decisão certa, como não tenho mais certeza de qualquer decisão que tomei nos últimos tempos, nem mesmo de rever minhas resoluções, quando a verdade é que ando bem confuso. O que por um lado é bom, bem próprio de um blog que fala de sonhos, então talvez eu não esteja tão confuso assim. Sei da contradição que é estar em reclusão e ainda assim tentar manter as aparências, por outro lado, me sinto sozinho como talvez nunca tenha me sentido antes. Penso e sinto coisas que tenho receio de compartilhar, usando de meias palavras e dissimulação para esconder o que se passa dentro de mim, que nem eu mesmo entendo direito. Uma das idéias que tenho medo de compartilhar, talvez por estar apavorado com a possibilidade de ela ser verdadeira, é a de estar fadado. Eu olho para o passado diariamente, tentando me apegar a uma época mais simples, antes da perda que sofri, e também nos primeiros meses depois dela, quando o calabouço não era algo concreto. Aquela era a pessoa que eu queria ser, forte e otimista mesmo diante da adversidade, admirado por todos. Porém, à medida que passei a me sentir incompreendido pelos outros e parei de compartilhar o que estava na minha cabeça, comecei a sentir as paredes de um calabouço literal se fechando em volta de mim. Então sonhei com a possibilidade de escapatória até destruir as paredes do calabouço, chegando no fundo daquele poço profundo que chamo de limbo, onde sonho e realidade se misturam. Tudo parece mortalmente falso e ao mesmo tempo mais real do que nunca, um sonho que virou pesadelo, onde o passado é minha única companhia, porque o presente é cruel e o futuro uma escuridão completa. Eu avanço aos tropeços por um túnel lamaçento que parece não ter fim, porque não enxergo luz no fim desse túnel, apenas lá no começo, antes de abrir os olhos e me encontrar no calabouço, como se todo o resto fosse um sonho. Me pergunto se ainda estou no calabouço, sonhando com um túnel sem fim, ou se estou caído no meio do túnel, sonhando em voltar ao calabouço. Ou quem sabe esse pensamento não é um pesadelo disfarçado de sonho, dizendo que pode existir uma saída mais fácil se eu voltar ao calabouço, provavelmente uma subida ao invés de uma descida. Mas agora não sei se esse calabouço é real, se cometi algum crime para estar nele, ou se mesmo ele não é obra da minha imaginação. Talvez eu sempre estive no túnel e nunca houve um calabouço, o que pode indicar que o túnel também não seja real, que seja só uma estrada ou várias delas, e eu só não saiba que caminho seguir. Mas o caminho que eu quero mesmo seguir é o da Estrada do Trovão, ir até lá acompanhado de uma mulher e não vão voltar mais, tendo só ela e a estrada como companhia. Viver sem rumo. Sem destino. Agora já misturei três sonhos numa coisa só e todos parecem mais verdadeiros que a realidade, quando na verdade estão deixando de ser, porque cada dia tomo mais consciência de tudo ao meu redor, e descobri que não gosto muito dessa realidade, que estou tão no limbo aqui quanto no túnel. Me pergunto a quanto tempo estou nele, porque toda minha vida me senti no limbo, lutando para ficar em pé. Lembro dos meus tempos no colégio tentando correr como os outros até tropeçar e cair. É como eu me sinto agora, como sempre me senti, mas dessa vez não quero ninguém olhando a minha queda. Quero que lembrem de mim erguendo o rosto ferido e tentando ficar em pé. Penso que esse pode ser o meu destino, que estou fadado a essa repetição, preso no limbo. Mas entre sonho e realidade o que eu quero é voltar a ser eu mesmo, quando achei ter me encontrado, antes de entrar no calabouço. Antes de cair no túnel. Quando a vida não parecia um pesadelo, onde nada era predeterminado e a Estrada do Trovão se estendia diante de mim, cheia de aventuras e descobertas. Mas cada vez mais percebo que um homem não pode fugir de seu destino. Nesse caso, talvez o melhor realmente seja sonhar com a Estrada do Trovão, nem que seja para se iludir.