sexta-feira, 4 de março de 2011

Coração de pedra

Estou mais acordado do que nunca agora que voltei a dormir. Quando fecho os olhos e estou no limiar dos sonhos, com a mente vazia e totalmente sozinho, eu volto à minha infância. Não em forma de pensamento, mas em sentimento, porque eu consigo lembrar de como é ser livre. De quando eu saía mato adentro, procurando não sei bem o que, talvez eu mesmo, como eu faço agora na floresta de pedra. Então eu percebo que não posso culpar ninguém pela minha solidão, porque desde pequeno sempre tentei buscar meu próprio caminho, sem depender de ninguém. É o que eu faço agora depois de passar muito tempo no calabouço. E não é como se eu fosse encontrar isso em algo ou alguém, essa é uma armadilha na qual todos caem, inclusive eu. Não, eu estou falando em vivenciar coisas diferentes, fora do meu núcleo de valores, o que de certa forma significa conhecer o mundo. Porém, isso não depende da distância que eu percorro, afinal, estou falando de algo dentro de mim, que poderia encontrar até sem sair de casa. Só que não adianta dar a cara a bater sem sair da zona de conforto, onde outros tomam a decisão por nós, e nós, tentando ser utéis, acabamos confundindo o caminho deles com o nosso, quando nem sempre é o caso. Essa pressão sempre vai existir, porque ela existe em todo lugar, seja em casa ou no trabalho. A verdade é que os olhos nunca estiveram sobre mim, mas agora que estão eu sinto essa pressão com o dobro da força, e de certa forma eu quero preencher aquele vazio que ficou, negando a mim mesmo no processo. Porque ainda existe aquele garotinho que mesmo assustado se perde mato adentro, fugindo de qualquer expectativa, sozinho no mundo. O que não é algo ruim, porque nada nem ninguém vai salvá-lo enquanto ele não aprender a conviver com a solidão, como um peregrino em busca de terras intocadas pelo homem. Só que para tanto é necessário desenvolver um coração de pedra, que conserve o calor dentro de si independente do contato humano, porque assim o garotinho pode finalmente virar homem. Um indivíduo capaz de prover a si mesmo sem depender de ninguém. Essa é a liberdade que eu sempre busquei, por mais dolorosa e difícil que ela seja, independente do que e de quem eu precisar abrir mão. Não existe outra escolha nessa altura do jogo. Meu único consolo é que um dia ele vai estar lá, no topo da montanha, sem medo. Pelo menos é a última imagem que me vem à cabeça antes de eu finalmente conseguir dormir.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito lindo o teu mundo! Há uma pessoa inteira, ou que se tornou inteira nesse mundo em que andas!

Brizola disse...

Agradeço o elogio! Mas a quem devo agradecer pelas belas palavras?

Diário De Um Dedinho disse...

"Querer ser outra pessoa,estar em outro lugar é perder a chace de ser e estar."
Este menino faz parte de vc... Será ele seu sentimento ao qual trancafiou?

Brizola disse...

Matou a charada!

Diário De Um Dedinho disse...

Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia."
Clarice Lispector

SOLTE-O!!! Ñ ESTÁ SENDO JUSTO COM ELE... E EM NADA TE ACRESCENTA SUA PRISÃO...

Obs. 'me identifico mto com esta escritora.
BJOS