sábado, 22 de janeiro de 2011

A queda

Quando encontrei a liberdade achei ter escapado de um calabouço, mas descobri que na verdade aqueles grilhões me mantinham longe do abismo, porque desde então sinto que mergulhei em queda livre. Não sinto dor ou tristeza, mas é como se tivesse caído com a cara na merda, diferente do sol que imaginei por tanto tempo, aquele que fitaria com olhos marejados. Estou livre sim, porém, agora preciso fazer todo o caminho de volta à superfície, e não existe dignidade em sair da merda. Abusei da boa vontade alheia, procurando uma mão amiga para me tirar do buraco, vejam só. Essa mão apareceu, não pensem que culpo os outros, acho até que recebi diversas luzes no caminho. Mas simplesmente não dei valor a elas, talvez porque não ofereciam a salvação e o consolo que eu esperava, diabos, que eu merecia! Aí, meu amigo, está o verdadeiro motivo da minha queda, e provavelmente do meu encarceramento também. A soberba. Claro que eu não poderia encontrar o sol com tanta facilidade, sem fazer nenhum esforço além de esperar, isso era nada mais do que um sonho. E para tornar esse sonho realidade acabei afastando e machucando as pessoas que mais valorizo, como sempre soube que faria, porque não dava ouvidos ao que elas diziam. O sonho era melhor, mais fácil, e foi o que me deu forças para escapar, mas a realidade é bem diferente, né? A verdade é que no meu ímpeto eu acabei escapando antes de saber ficar em pé, por isso a minha queda e tudo que veio depois, quando me afoguei na minha própria merda, tentando trazer os outros comigo. Hoje, depois de muito esforço, consegui ficar em pé pela primeira vez em muito tempo, talvez na minha vida inteira. Não sei por quanto tempo vou aguentar, nem se vou conseguir levantar outra vez caso eu caia, mas hoje pretendo comemorar essa pequena vitória. E seguir as luzes que me apontam ao invés de amaldiçoar elas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como uma avalanche o texto aparece frente aos meus olhos e me emudece...