quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Do fundo do meu coração



Fogo no curral em uma noite de verão
Todas as minhas coisas estão lá dentro
A fumaça negra sobe, queimando cada vez mais

Sinto o cheiro de folhas e pneus queimados
Os cachorros nas pradarias não param de latir
Um pássaro negro alça voo, me diga o que você fez

Não estou bêbado e não estou triste
Não tem nada lá dentro que eu queira de volta
Me deixe tocar seus lábios, me deixe ver onde você está

Você se pergunta como eu estou?
Então não perca tempo olhando nos meus olhos
Nem toda lágrima significa que você vai chorar

Do fundo do meu coração
Surge um sentimento ruim
Não há nada além de poeira
Nas camadas que eu estou descamando

Do fundo do meu coração
Bate um tambor agitado
Surgindo das profundezas
E chegando aos raios do sol

Sob esmagadores céus cinzentos
Paralisado com dores fantasmas
Antes deste quarto virar apenas um lugar

Onde eu dormi por dias intermináveis
Tecendo teias e gravando nomes
Onde pensamentos se partiam, explodindo no espaço

Mas uma vez eu andei um quarto de uma milha
Através de piscinas negras de arame farpado
E cortei o metal com a ponta de um alicate

Cantando rapsódias durante as passadas
Obstinado e engrandecido
Minha hora chegou, "quem você está enganando e por quê"?

Do fundo do meu coração
Surge um sentimento ruim
Há morte eminente
Na promessa que eu estou mantendo

Do fundo do meu coração
Surge um exército de um homem só
Subindo os degraus
E chegando aos raios do sol

Pálido e com os olhos vazios
Enterrado sob céus rompidos
Nem todo sorriso significa que eu estou rindo por dentro
Com duas-caras e comprometido
Eu lhe envolvi com mentiras
Tudo significa nada e esta noite tudo é meu

Do fundo do meu coração
Surge um sentimento ruim
Eu enterrei tantas coisas
Nas camadas que eu estou descamando

Do fundo do meu coração
Uma batalha irá surgir
Subindo os degraus
E chegando aos raios do sol

Do fundo do meu coração
Surge um sentimento ruim
Amarrado com firmeza
Sem sinal de ir embora

Do fundo do meu coração
Uma balada é cantada
Ela surge como um sussurro
Para os raios do sol

Jakob Dylan - The Wallflowers

sábado, 22 de janeiro de 2011

A queda

Quando encontrei a liberdade achei ter escapado de um calabouço, mas descobri que na verdade aqueles grilhões me mantinham longe do abismo, porque desde então sinto que mergulhei em queda livre. Não sinto dor ou tristeza, mas é como se tivesse caído com a cara na merda, diferente do sol que imaginei por tanto tempo, aquele que fitaria com olhos marejados. Estou livre sim, porém, agora preciso fazer todo o caminho de volta à superfície, e não existe dignidade em sair da merda. Abusei da boa vontade alheia, procurando uma mão amiga para me tirar do buraco, vejam só. Essa mão apareceu, não pensem que culpo os outros, acho até que recebi diversas luzes no caminho. Mas simplesmente não dei valor a elas, talvez porque não ofereciam a salvação e o consolo que eu esperava, diabos, que eu merecia! Aí, meu amigo, está o verdadeiro motivo da minha queda, e provavelmente do meu encarceramento também. A soberba. Claro que eu não poderia encontrar o sol com tanta facilidade, sem fazer nenhum esforço além de esperar, isso era nada mais do que um sonho. E para tornar esse sonho realidade acabei afastando e machucando as pessoas que mais valorizo, como sempre soube que faria, porque não dava ouvidos ao que elas diziam. O sonho era melhor, mais fácil, e foi o que me deu forças para escapar, mas a realidade é bem diferente, né? A verdade é que no meu ímpeto eu acabei escapando antes de saber ficar em pé, por isso a minha queda e tudo que veio depois, quando me afoguei na minha própria merda, tentando trazer os outros comigo. Hoje, depois de muito esforço, consegui ficar em pé pela primeira vez em muito tempo, talvez na minha vida inteira. Não sei por quanto tempo vou aguentar, nem se vou conseguir levantar outra vez caso eu caia, mas hoje pretendo comemorar essa pequena vitória. E seguir as luzes que me apontam ao invés de amaldiçoar elas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Uma história de amor impossível

Conta a lenda que uma jovem mariposa - de corpo frágil e alma sensível - voava ao sabor do vento certa tarde, quando viu uma estrela muito brilhante, e se apaixonou.
Excitadíssima, voltou imediatamente para casa, louca para contar à mãe que havia descoberto o que era o amor.
- Que bobagem! - foi a resposta fria que escutou. - As estrelas não foram feitas para que as mariposas possam voar em torno delas. Procure um poste ou um abajur, e se apaixone por algo assim; para isso nós fomos criadas.
Decepcionada, a mariposa resolveu simplesmente ignorar o comentário da mãe, e permitiu-se ficar de novo alegre com a sua descoberta.
- Que maravilha poder sonhar! - pensava. Na noite seguinte, a estrela continuava no mesmo lugar, e ela decidiu que iria subir até o céu, voar em torno daquela luz radiante, e demonstrar seu amor.
Foi muito difícil ir além da altura com a qual estava acostumada, mas conseguiu subir alguns metros acima do seu vôo normal.
Entendeu que, se cada dia progredisse um pouquinho, iria terminar chegando na estrela, então armou-se de paciência e começou a tentar vencer a distância que a separava de seu amor.
Esperava com ansiedade que a noite descesse, e quando via os primeiros raios da estrela, batia ansiosamente suas asas em direção ao firmamento.
Sua mãe ficava cada vez mais furiosa: - Estou muito decepcionada com a minha filha - dizia. - Todas as suas irmãs, primas e sobrinhas já têm lindas queimaduras nas asas, provocadas por lâmpadas! Só o calor de uma lâmpada é capaz de aquecer o coração de uma mariposa; você devia deixar de lado estes sonhos inúteis, e arranjar um amor que possa atingir.
A jovem mariposa, irritada porque ninguém respeitava o que sentia, resolveu sair de casa.
Mas, no fundo - como, aliás, sempre acontece- ficou marcada pelas palavras da mãe, e achou que ela tinha razão.
Por algum tempo, tentou esquecer a estrela e apaixonar-se pela luz dos abajures de casas suntuosas, pelas luminárias que mostravam as cores de quadros magníficos, pelo fogo das velas que queimavam nas mais belas catedrais do mundo.
Mas seu coração não conseguia esquecer a estrela, e, depois de ver que a vida sem o seu verdadeiro amor não tinha sentido, resolveu retomar sua caminhada em direção ao céu.
Noite após noite, tentava voar o mais alto possível, mas quando a manhã chegava, estava com o corpo gelado e a alma mergulhada na tristeza.
Entretanto, à medida que ia ficando mais velha, passou a prestar atenção em tudo que via à sua volta. Lá do alto, podia enxergar as cidades cheias de luzes, onde provavelmente suas primas, irmãs e sobrinhas já tinham encontrado um amor.
Via as montanhas geladas, os oceanos com ondas gigantescas,as nuvens que mudavam de forma a cada minuto. A mariposa começou a amar cada vez mais sua estrela, porque era ela quem a empurrava para ver um mundo tão rico e tão lindo.
Muito tempo se passou, e um belo dia ela resolveu voltar à sua casa. Foi então que soube pelos vizinhos que sua mãe, suas irmãs, primas e sobrinhas, e todas as mariposas que havia conhecido já tinham morrido queimadas nas lâmpadas e nas chamas das velas, destruídas pelo amor que julgavam fácil.
A mariposa, embora jamais tenha conseguido chegar à sua estrela, viveu muitos anos ainda, descobrindo toda noite algo diferente e interessante.
E compreendendo que, às vezes, os amores impossíveis trazem muito mais alegrias e benefícios que aqueles que estão ao alcance de nossas mãos.

Paulo Coelho

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Convite

Bem-vindos ao meu novo blog. Vocês devem estar se perguntando o porquê do nome "Estrada do Trovão", certo? Bom, é uma referência a uma das minhas músicas favoritas, "Thunder Road", do Bruce Springsteen. E segundo descrição do próprio "The Boss", fala de um convite para ir a algum lugar, não se sabe exatamente para onde, mas para chegar nele é preciso pegar essa tal estrada do trovão. A letra fala de um casal que se aproximou pelas circunstâncias e uma oportunidade perdida, de arrependimento, e ao mesmo tempo reforça esse convite, insistindo que nunca é tarde demais para descobrir algo novo. Talvez não seja algo essencialmente verdadeiro, mas a única chance de descobrir isso é se arriscando, né? Porque talvez o que existe agora não seja tão real assim também. A verdade é que nada na vida é real para sempre, e quando isso muda, não adianta mais insistir num sonho que já não existe mais. Quando isso acontece talvez seja a hora de começar um novo sonho, dar uma chance aquela sensação que ainda não sabemos explicar direito, porque pode estar ali um sonho melhor, mais real e verdadeiro. Ou um sonho que no futuro se mostre tão imperfeito quanto o atual. Nunca se sabe nesses casos. A única coisa que não podemos fazer é deixar de sonhar.

Topam embarcar comigo nessa viagem?