quarta-feira, 15 de junho de 2011

A rosa

Nas margens da Estrada do Trovão, enquanto ele faz sua vigia silenciosa no Recanto das Rosas, vejo o homem da meia-noite lentamente tomar forma, alto e todo vestido de negro com seu chápeu em aba, mastigando um capim pelo canto da boca. Em suas mãos, ele segura uma foice pronta para colher o que foi plantado, e ao seu lado está o garotinho, agora sob sua proteção. Mas eu me viro para a outra direção e sigo caminhando sozinho, não para frente e nem para trás; para longe. Eu caminho por não sei quanto tempo, podem ser horas ou dias, não sei dizer. Até que chego numa praia e lá enxergo o céu mais límpido do que nunca. Límpido e ainda vazio. Eu olho para o mar e sua imensidão, tão grande quanto a minha tristeza, então as lágrimas escorrem e não consigo controlá-las mais. Eu penso na rosa e choro. Ela tão sozinha em seu altar, agora inalcançável e sagrada, como uma lembrança constante do que eu perdi. Eu aceito essa penitência com toda a satisfação, porque não me vejo como vitorioso, muito pelo contrário. O homem da meia-noite que cultive suas rosas, mas a penitência é minha e de mais ninguém, portanto faço o que quiser dela. De repente eu vejo que o exército de fantasmas me seguiu, todos eles súditos do reino perdido, aquele onde eu deveria reinar. Então me dou conta que virei um fantasma como eles, que talvez sempre tenha sido, fato que se torna concreto quando eu penso nele. Agora me tornei o rei deles, como sempre deveria ter sido. Por um momento penso em agir contra o homem da meia-noite, retomando nossa guerra eterna, mas vejo que agora ele é mais forte do que eu, principalmente por estar com o garotinho. Agora ele está completo, enquanto eu não tenho mais pelo que lutar. Estou tão cansado. Não há mais o que eu fazer nesse reino ou qualquer outro lugar. Agora eu me sinto preso, enquanto o homem da meia-noite está livre, mais vivo do que nunca. E eu só quero o brilho da minha estrela. Mas no último instante de consciência, quando fecho os olhos antes de finalmente descansar, enxergo a rosa. Ela é a mais vermelha da plantação, o molde de todas as outras. Mas é a única que eu não posso tocar. Me vejo subir, leve como um pluma. Estou chegando tão alto que me sinto mais perto do que nunca da minha estrela. Não sei como, mas sinto uma estranha convicção que verei ela outra vez, nessa vida ou na próxima. Então eu desapareço com um sorriso no rosto.

"Estou chegando, meu amor. Estou chegando."

7 comentários:

Diário De Um Dedinho disse...

VC CHEGOU A DEMONSTRAR A INTENSIDADE DESTE "AMOR" PARA ELA?
SERÁ Q SOMOS CAPAZES DE AMAR ALGUÉM, QUANDO NÃO CONSEGUIMOS SEQUER NOS AMAR?
COMO DAR O Q NÃO POSSUÍMOS?!

Brizola disse...

Sábia questão!

Muitas vezes não demonstrar é a maior provar de amor. Melhor do que demonstrar demais e se ferir depois.

Diário De Um Dedinho disse...

Se arriscamos podemos nos machucar...
Mas em contra partida, não arriscando, sofremos da mesma forma por algo q deixamos d viver...

Brizola disse...

Mas arriscando e se machucando, como voltar a arriscar?

Diário De Um Dedinho disse...

Mas não arriscando, não está machucado?
Não sofremos mesmo vestido desta armadura e máscara q adquirimos perante os outros?

Brizola disse...

Tens toda a razão!

Diário De Um Dedinho disse...

SUSPIRO...